Notícias

O aperto monetário e as incertezas derivadas do período eleitoral devem pesar no desempenho da atividade econômica neste ano, o que se soma à possibilidade de o Federal Reserve (Fed) ter de subir os juros ainda mais do que se espera. “Não vai ser um ano fácil”, disse o economista-chefe da XP Asset Management, Fernando Genta, durante “live” mensal realizada nesta quarta-feira, ao lembrar, ainda, que o comportamento da economia brasileira no quarto trimestre foi mais baixo do que se esperava, o que deixa perspectivas ruins para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022.

“Nas nossas perspectivas para 2022, vemos um crescimento na casa de zero, podendo ser negativo”, afirmou o profissional. Para ele, o risco de o Fed ter de elevar os juros de forma mais acelerada pode gerar um aperto das condições financeiras mais forte ao longo do ano. “O Fed deve encerrar o programa de compra de ativos no fim do primeiro trimestre e fica liberado, no segundo trimestre, para subir juros. Vemos como mais provável um cenário de três altas de juros porque a inflação não deve ter um alívio tão forte assim, mas é bem plausível um cenário de quatro altas.”

Além disso, durante a “live”, Genta apontou que o Brasil fechou 2021 “muito mal” do ponto de vista fiscal, já que teve que mudar várias regras fiscais, o que se materializou nos preços dos ativos, apesar do alívio em dezembro. Ele lembrou da alteração do teto de gastos, do drible à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e do calote nos precatórios, além da prorrogação da desoneração da folha de pagamentos até o fim de 2023 de uma forma “pouco usual”. “Pode-se questionar até um eventual crime de responsabilidade e isso pode travar ainda mais uma agenda legislativa. A gente nem vê isso com tão maus olhos, dada a dinâmica das coisas que têm sido aprovadas.”

Em relação à atividade econômica, Genta disse acreditar que o reajuste do salário mínimo deve trazer alívio para as famílias sem um impacto muito forte nas empresas. “Podemos ter algum alívio a partir de meados do primeiro trimestre e isso, claramente, gera impacto no crescimento. Não vai ser algo virtuoso, já que é uma compensação da perda do poder de compra, mas é um alívio importante e que pode estancar a piora mais acentuada na atividade”, disse o economista.

Para ele, a desaceleração da atividade pode elevar as pressões para o Banco Central começar a cortar a taxa básica de juros já a partir do segundo trimestre. “Mas, dado o patamar da inflação e o processo de reconstrução da credibilidade, o BC deve segurar a Selic em patamar mais elevado por mais tempo”, afirmou Genta, cuja expectativa é de que a Selic suba a 12%. Para ele, a comunicação da autoridade monetária é compatível com um juro básico de pelo menos 11,75%. “Se não fosse um ano de Fed subindo juros e de eleição, nosso cenário seria de corte de juros no primeiro semestre.”

Diante do cenário apresentado por Genta, a XP Asset mantém uma visão de risco elevado para a atividade neste ano. “A gente tem se surpreendido com a velocidade da piora. A atividade poderia piorar muito ao longo de 2022, mas já no fim de 2021 foi algo muito marcado. E é importante notar que, embora a gente fale de um PIB perto de zero neste ano, a sensação vai ser muito pior”, disse Bruno Marques, gestor dos fundos macro da XP Asset, também presente na “live”.

Apesar do cenário mais pessimista com o desempenho da atividade, a XP Asset zerou posição vendida em bolsa entre o fim de novembro e o começo de dezembro. “Muita coisa já estava no preço. A gente tem visto o cenário externo afetando muito a configuração da bolsa lá fora, com empresas de tecnologia sofrendo muito e o setor financeiro subindo muito. No Brasil, é muito mais intenso quando você olha os setores ligados à economia doméstica, que têm caído bem mais”, disse Marques. Assim, ele disse não ver muitas assimetrias na bolsa neste momento.

No entanto, no mercado de juros, Marques revela que a XP Asset montou posição aplicada ao tentar buscar assimetrias diante da visão de crescimento fraco. “Aproveitamos a queda das implícitas para montar posições compradas em NTN-Bs intermediárias e curtas e temos posições aplicadas em juros curtos. Dado o cenário de atividade que nós temos, podemos ver surpresas para o outro lado. Nossas posições são muito mais buscando assimetrias”, afirmou o gestor.

Em relação ao cenário internacional, a aposta de Marques se dá na retirada de liquidez. “Três, quatro meses atrás, a gente tinha juro baixo, Fed comprando títulos… Quando pensamos no cenário três, quatro meses à frente, vamos ter o Fed subindo juros, sem QE e discutindo diminuir o balanço, que hoje está em torno de 37%, 38% do PIB e que poderia caminhar para 25% do PIB. Vamos rumar para um processo de retirada de liquidez muito forte. Temos receio do impacto disso nos mercados, principalmente nos ativos de risco.”

Link da reportagem: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/01/05/xp-asset-mostra-preocupacao-com-atividade-economica-brasileira.ghtml